sexta-feira, 14 de junho de 2013

Vínculo

Querido,

Você deve ter levado um susto quando viu meu nome na sua caixa de entrada. Imagino até a sua cara. Quer dizer, imagino a cara que faria quatro anos atrás. Já faz tanto tempo que vim para São Paulo que é difícil dizer se ainda levanta as sobrancelhas quando é surpreendido.

De lá para cá, nenhuma notícia sua. Confesso que não imaginei que o fim seria tão definitivo. Imaginei várias vezes você batendo na minha porta e dizendo que tinha se mudado para cá também. Hoje, anos depois, fico aliviada que não tenha feito isso.

A cidade não é fácil para quem acaba de chegar. Não tivemos um começo tranquilo e várias vezes pensei em voltar. Mas, assim como você o fez, ela foi me conquistando aos poucos. Foi igualzinho o seu jeito de me ganhar. Nunca perdi de vista os seus defeitos e o que me incomodava, mas as partes boas pareciam compensar. É bem verdade que a dinâmica é caótica por aqui, mas, de repente, até o cinza pareceu menos cruel aos meus olhos. E, assim, me rendi à vida pauslitana.

Passei por poucas e boas por aqui, mas ontem foi diferente. Você deve ter visto nos noticiários. A cidade ficou tensa. Tive medo e desejei estar com você. Um pouco egoísta até, eu sei, mas precisava te dizer. Junto com o medo, veio a raiva. Uma sensação de que a cidade fazia comigo o mesmo que você. Insistiu em me conquistar e quando criamos esse vínculo que temos hoje, colocou tudo em cheque. Quando percebi, me peguei justificando o que acontecia. Da mesma maneira que fazia com seus erros. 

Olha, não vou acabar esse e-mail dizendo que vou voltar. Não é sobre isso. O desfecho da minha história de amor com a cidade é diferente do que o da nossa. Alias, esse e-mail é sobre isso. Aprendi a ficar. Nessa cidade que parece querer que todo mundo vá, entendi a importância de ficar. Justo aqui, criei essa conexão. Desculpa se não tentei arrumar as coisas entre nós quando pude. Tenho vontade de fazer isso por aqui. Eu quero ver as coisas diferentes em São Paulo. 

Espero que quando vier me visitar, já tenha conseguido mudar algumas.

Se cuida.

Beijos,

Alice.

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