terça-feira, 4 de junho de 2013

Marionete

Seu palco era a calçada. Seu público os pedestres. O ingresso era de graça.

Ele não era muito velho, mas também não era do tipo que seria considerado jovem. Sua arte era milenar. Em um cenário que reproduzia a própria rua onde se apresentava, um boneco de marionete ganhava vida. 

Caminhava pela calçada, sentava no chão, caía na sarjeta. Cada dia era uma história, não necessariamente diferente. Alguns episódios se repetiam vez ou outra. Mas, na vida é assim também, não é mesmo? Tem coisa que acontece de vez em quando. Tem coisa que se repete sempre, como é o caso do próprio artista que todos os dias se apresenta na mesma calçada.

Essa não é a única coisa que eles, artista e marionete, têm em comum. Eles também vestem a mesma roupa. Sempre estão de suspensórios. Sempre caminhando pela mesma calçada - um da cidade, o outro da caixa. Costumam estar sérios. O boneco por ser de madeira, o artista por ser de verdade.

Por outro lado, tem a diferença que está nas cordinhas. Quem decide os passos da marionete é o artista. Aliás, ele que escolheu a cor de seus suspensórios idênticos, a rua onde se apresentariam a e caixa onde o colocaria.

As pessoas sempre param para ver as apresentações. Algumas deixam uma moeda. Essas recebem um agradecimento. Sempre, dos dois. Ambos se inclinam sobre os joelhos para falar obrigada. Difícil dizer para quem os pedestres estão entregando o dinheiro. Às vezes, vendo os dois vestindo a mesma roupa, até confude. Porque tem gente que se identifica mais com o artista e tem gente que, se pudesse, preferia levar a vida do boneco.

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