segunda-feira, 20 de maio de 2013

Brechó

Tem que ser usado. Esse é o requisito básico para que algo possa fazer parte de um brechó. Não importa se é calça, se é chapéu, enfeite, sapato, bolsa, quadro. Se tiver sido usado, está valendo. E se tudo ali foi usado, quer dizer que cada um dos itens experimentou uma separação. No final das contas, o brechó é essa estranha composição de episódios de separação seguidos de novos de reconciliação. Não com o mesmo dono, mas uma reconciliação.

Aquela era uma tarde de separações e reconciliações na vida dela. Levando duas sacolas, passava no brechó para vender algumas peças com as quais não queria mais ficar. Não eram as peças, era ela. Estava diferente e elas continuavam iguais, então não estava mais funcionando.

Apresentou uma a uma ao vendedor, combinou preços e depois aproveitou para passear pelas prateleiras e conhecer os itens que passariam a fazer companhia para as suas ex-coisas. Tinha tanta coisa linda. Como é que alguém poderia se desfazer delas? Pegou um moletom cinza e checou o preço. Decidiu levar. Azar de quem tinha deixado aquela belezinha escapar. Ao pagar, ficou imaginando o dono anterior. Ficou pensando nas histórias que o moletom já tinha vivido, os lugares nos quais havia estado e como tinha sido a separação.

Saiu da loja já vestindo ele. Logo na primeira esquina, com seu moletom novo, esbarrou em um velho amor. Ele vinha acompanhado de um novo alguém. Trocaram um cumprimento tímido que não dava pista alguma sobre a história que tinham vivido, sobre os lugares nos quais haviam estado e sobre como tinha sido a separação. Continuaram seus caminhos. Ela sem suas antigas coisas, mas com seu novo moletom. Ele com seu novo amor.

Aquela era uma tarde de separações e de reconciliações na vida dela. No fim das contas, todos as tarde são um pouquinho disso.

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