segunda-feira, 13 de maio de 2013

Pipoca

Todos os dias, antes do sinal tocar, a turma já sabe que a aula está chegando ao fim. Nem precisa de relógio na sala para a agitação dos alunos guardando seus materiais começar. Tudo por causa do pipoqueiro. Ele chega todos os dias no portão da escola no mesmo horário. O cheiro de pipoca quentinha invade a sala e funciona como o soar de um cuco. 

Instantes depois do sinal, já tem fila na frente do seu carrinho. Pipoca doce, pipoca salgada, branca, rosa. Pipoca sendo vendida, pipoca sendo preparada. O carrinho nunca está vazio. Assim como o cantinho do pipoqueiro. Sempre ele está lá.

Nunca ninguém parou para pensar da onde ele vem. Será que mora ali perto? Deve ser! Dificilmente, ele conseguiria vir com o carrinho dele de muito longe. Imagine só, ele dentro de um ônibus com seu carrinho. Não ia funcionar. 

Nunca ninguém parou para pensar no motivo pelo qual ele sempre retorna para aquele ponto. É bem verdade que os clientes esperam ele por lá todos os dias. Mas, compradores de pipoca tem em qualquer escola, porta de metrô ou até de empresa. Poderia muito bem mudar de freguesia.

Ele mesmo nunca se perguntou isso. Nem nunca se deu conta do privilégio que tem de escolher se vai voltar ou não. Sua vida dentro de um carrinho, sobre rodas que permitem conduzí-la para qualquer lugar. Mas, em qualquer lugar, ele não seria o pipoqueiro que anuncia o final da aula. Sua pipoca seria pipoca e não cheiro de fim de aula, nem gostinho de volta para casa. E isso ele não quer. 

Que nem o cuco que só faz sentido se for parte da estrutura do relógio, ele só sente que faz sentido se for naquela esquina. E, por isso, ele sempre volta.

2 comentários:

  1. O apego a sensações inexplicáveis. Sorte do pipoqueiro ter uma dessas para se apoiar.

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