
Se dependesse de nossos cérebros, não teríamos contato algum com muitas
das nossas memórias mais antigas. A primeira palavra, a primeira refeição, o
primeiro aniversário, o primeiro dente. Tudo isso estaria perdido, solto no
tempo, desconectado de nós. Mas, não está. Em muitos casos, por causa dela, que
dá sentido a essas memórias e trata de registrá-las cuidadosamente, nossa mãe.
Como que num passe de mágica, elas fazem todas as pesquisas e teorias sobre
a memória cairem por terra. Nossas mães são, desde o primeiro dia, as nossas
lembranças. Guardam cada acontecimento nosso tão vivo dentro delas que ao
compartilhar são capazes de criar a sensação de que lembramos de cada episódio
narrado. Quando falam para o filho sobre a primeira vez que deu um sorriso ou
que disse uma palavra, por exemplo, parecem transportá-lo no tempo para diante
daquela cena. E, então, pronto. A história vira lembrança. Ou a lembrança vira
história, a nossa história. Nem os pesquisadores podem dizer muito bem ao
certo.
Não há nada tão pessoal quanto a nossa memória. Apenas uma coisa: a
missão de ser guardiã da memória de alguém que ainda não pode lembrar. Cuidar
de cada uma das recordações com carinho, transformá-las em álbuns de fotografias,
em vídeos – alguns ainda em VHS -, em noites de histórias, em brinquedos
guardados, em desenhos enquadrados. Elas não perdem nada. E, assim, se tornam a
eterna conexão entre nosso começo, nosso meio e fim.
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