
Sem dizer nenhuma palavra, a mãe levantava e ia junto com a filha para
perto do armário. A menina sorria como se estivesse diante de algum mundo
encantado, desses que apareciam nas histórias que ouvia antes de dormir.
Esticava o bracinho e apontava para os pares de sapato com os saltos mais
altos, os colares de perólas, os batons avermelhados e alguma saia que lhe
serviria como vestido. No seu mundo encantado, a mãe era a princesa e ela
queria, por alguns instantes, se sentir como tal.
Colocava um pé de cada sapato, saía caminhando toda desajeitada e ia
mostrar para o pai. Voltava e se enchia de colares. Entre uma escolha e outra,
tinha oportunidade de ouvir a história de quando a mãe ganhou cada uma das
jóias. Foi assim que conheceu episódios sobre a festa de 15 anos da mãe ou do seu
avô que era ourives. O batom todo borrado registrava um beijo sorridente de
agradecimento no rosto da mãe depois que já tinha voltado a colocar o seu
próprio pijama.
Hoje, anos depois, a filha virou mãe. Empresta as suas coisas para a sua
pequena. Entre um colar e uma saia, aproveita para contar as histórias da sua
mãe, agora avó. Um passeio rápido pelo tempo por meio daquele armário
encantado. Ao olhar a sua filha vestida de gente grande, se pega muitas vezes
pensando como gostaria, por alguns instantes, de caber nas suas roupinhas e
terminar o dia com a cabeça deitada no colo da sua mãe ouvindo uma história
sobre uma princesa em qualquer mundo encantado.
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