segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Gavetas e papéis

Como não havia suspeitado de nada? Estava ali, na cara dela o tempo todo. Só faltava pular e soltar gritinhos. Como não viu?

Os montinhos de papel dele pela casa e as gavetas repletas de documentos, fotos e contas sempre foram a regra. De repente, com a desculpa de que queria aproveitar o começo do ano para arrumar as coisas, passou a organizá-las. Os montinhos migraram para as lixeiras. As gavetas ficaram vagas. Decidia por se livrar da maioria das papeladas. Sempre havia deixado os papéis ali para caso precisasse saber onde procurar. Afinal o que tinha acontecido com o " caso precisasse"? Deve ter ido para algum daqueles sacos pretos junto com as contas e documentos velhos.

Nunca ia a médicos. Sabe como os homens são, não é mesmo? Mas, naquele mês decidiu visitar o oftamologista e o dentista. Dizia que precisava cuidar mais da saúde. Finalmente, havia percebido. Fazia anos que dizia isso para ele e ele nada de agendar as consultas. Quanta ingenuidade, ela havia acreditado que ele estava, de fato, querendo atualizar os graus dos óculos.

No dia em que ele foi embora, a surpresa dela durou apenas alguns instantes. Deveria ter agendado uma ida ao oculista para ela também. Quem sabe assim teria visto aquilo que passava diante dos seus olhos. Foi juntando as peças, as fichas foram caindo e ela reparou que a partida foi premeditada. Não aceitou. Ficou com raiva. Chorou. Hoje, ela só queria voltar para aqueles instantes de surpresa.

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