quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Reto toda a vida

- Oi? Boa tarde! O senhor sabe como faço para chegar nesta rua aqui? - abriu o mapa que levava na mão e apontou o destino que buscava.

- É bem pertinho daqui. Faz assim, vira na segunda à direita, pega a primeira à esquerda e depois vai reto toda a vida. Não tem erro.

Agradeceu e continou a caminhada. Contou a primeira à direita, encontrou a segunda e virou. Logo viu uma rua à esquerda e entrou nela. Pronto, agora era só seguir reto toda a vida. Relaxou e foi caminhando nada  preocupado em encontrar outras saídas. O próprio velhinho que tinha orientado o caminho havia dito que não tinha erro.

Riu consigo mesmo ao imaginar como seria sua existência se pudesse andar reto toda a vida. Enquanto caminhava, ia pensando sobre como seria sua vida toda passando naquela reta. Alguns passos a frente, pegaria o seu diploma. Depois de novas duas quadras, seria promovido. Começaria a namorar uma garota que conheceria naquela reta e levaria ela para jantar em um restaurante que ficava na esquina seguinte. Cinco quadras depois se casariam e ali mesmo comprariam sua casa. Seus dois filhos, que nasceriam em um hospital localizado no mesmo quarteirão, cresceriam brincando com os vizinhos no parquinho de sua rua. Depois de suas formaturas, também se casariam na mesma igreja em que ele o havia feito, afinal era única localizada na sua reta. Quando aposentado, encontraria alguns outros senhores da rua para jogar gamão em uma mesinha que sua esposa colocaria na calçada. Morreria e seria enterrado no cemitério do fim da rua.

Decidiu parar e sentou na calçada da tal reta. Abriu o mapa e ficou encarando ele. Desenhou uma rota alternativa em sua cabeça. O destino era o mesmo, o caminho era outro. Virou na primeira esquerda. Podia ser que desse errado. Podia ser que estivesse escolhendo o caminho mais longo e que se perdesse. Mas, assumiu o risco. Só assim poderia encontrar um atalho ou, pelo menos, um horizonte diferente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário