quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mapas

O despertador não tocou. A água do banho não esquentou. A chave do carro desapareceu. Encontrou a chave. Quando chegou, a reunião já tinha começado. Olhar de reprovação do chefe. O café estava frio. Não salvou o documento no qual estava trabalhando. Ficou trabalhando na hora do almoço. Sua mãe ligou para reclamar de seu pai. Não conseguia terminar o papo. A bateria do celular acabou. Voltou a digitar o documento. No caminho para casa, lembrou que era o seu rodízio. Viu algo que parecia um guarda de trânsito. Não tinha certeza, pois tinha esquecido os óculos no escritório. Aquele farol nunca abria. Bem quando ia passar, ficou vermelho de novo. Só podia ser brincadeira. Ninguém nessa cidade sincroniza os faróis?  Deus do céu, por que justo com ele? Prometeu que ia se mudar de São Paulo, comprar um despertador novo e que ia operar os poucos graus que tinha de míopia.

Um vendedor de mapas se aproximou do seu carro. Ele poderia ter balançado a cabeça negativamente e ter seguido seu caminho. Mas, não foi isso que fez.

- Por que o senhor está fazendo isso? Você realmente acredita que alguém possa comprar um mapa mundí no farol? É isso mesmo? Imagina só, o indivíduo voltando para casa e pensando que precisa parar para comprar lâmina de barbear, leite e um mapa! Vai procurar umas balas ou carregadores para vender, meu chapa!

O vendedor parado, com os 5 continentes abertos na sua frente em silêncio. Ele só ouvia a sua própria voz. É estranho ouvir a sua própria voz. Se deu conta da situação rídicula que protagonizava e ficou com vergonha. A vergonha era menor do que a raiva acumulada no dia. Continuou. Falava tão alto que ficou com a sensação de que poderia ser ouvido nos quatro cantos daquele mundão estampado no mapa. Se imaginou ali, no cantinho da América do Sul. Um pontinho enfurecido. Um pontinho no rodízio, sem celular e sem óculos. Parou de gritar, abriu a carteira e comprou o mapa.

Chegou em casa, pregou ele na parede em cima da sua cama e foi dormir. Deitou-se de certa forma aliviado lembrando de que o mundo estampado em sua cabeceira não acabaria por conta de dias ruins cheios de problemas-pontinhos.

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