quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Vestido de Noiva

Com um saco preto de lixo apoiado no ombro, ele vinha caminhando pela avenida Rebouças. O pesar dos seus passos fazia parecer que carregava o mundo nas costas. E, de fato, o fazia. Tudo que tinha estava ali dentro. Vestia roupas mais quentes do que aquelas que o clima do dia sugeria. Calças pretas bem surradas, uma blusa de mangas longas manchada e chinelos. A barba era longa e cinza. Na cabeça, um boné que parecia ter sido material de campanha de algum candidato a vereador algumas eleições atrás. Era impossível dizer a sua idade.

Ele era morador de rua. Suas passadas davam a impressão de estar alheio a tudo que passava a seu redor. Nem o trânsito caótico, nem os pedestres apressados com seus guarda-chuvas, muito menos as sirenes pareciam existir para ele. Poderia muito bem estar caminhando em um deserto. 

Foi, então, que algo interrompeu sua aparente apatia. Passava diante de uma loja de roupas black tie, quando parou e descansou a sua sacola na calçada. O último casal de clientes daquele dia deixava a loja que tinha a vitrine dividida em duas partes. No lado esquerdo, estavam smokings e fraques. Na direita, eram expostos vestidos de noiva. Ele parou diante da segunda e ficou encarando o vidro respingado da chuva que caía.

Ele não tinha uma noiva. A verdade é que, recentemente, não tinha sequer muitos planos que ultrapassassem os dias seguintes. Aqueles vestidos eram para quem tinha noiva e planos, pensava consigo mesmo. Para quem tivesse razões para brindar. Para quem tivesse construindo um apartamento e um futuro. Ele só tinha sua sacola. Se nem o vestido caberia lá dentro junto com seus cacarecos, imagine onde guardaria as razões para brindar e os planos para o futuro, resmugava para si mesmo.

Foi-se embora sem rumo certo. Parecia seguir como tinha chegado. Mas, não. Deixou a vitrine abrindo o saco a sua frente e começando a se livrar de alguns elementos que estavam lá dentro. Era hora de liberar espaço para novos planos.

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