sexta-feira, 1 de março de 2013

Busca

Enquanto caminhava para a sala dele, meio inclinada para o lado direito por conta da pesada sacola de livros que carregava neste ombro, imaginou o que encontraria. Móveis coloridos, souvenirs dos diversos países por onde passou e uma biblioteca particular. A porta se abriu. Foi surpreendida ao reparar que sua camisa azul turquesa era a única fonte de luz do ambiente monocromático.

Ele estava em uma poltrona cinza que parecia ter sido bege tempos atrás. Seu pés descansavam em um tapete encardido. Ele era seu escritor favorito. Já havia lido todos os seus livros, os quais carregava consigo para que fossem autografados um a um. Estava eufórica com a possibilidade de entrevistá-lo e esperando um papo super animado. Não foi nada disso. Suas respostas às perguntas dela sobre o que mais poderia querer atingir foram secas. Suas reações diante das declarações dela sobre o quanto admirava o seu trabalho foram tão apagadas quanto as cores da sua sala. Então, quando se fez um silêncio incômodo, ele decidiu inverter a lógica da conversa passando a fazer as perguntas:

- E você, o que quer atingir? - questionou sem mudar o tom de voz.

- Eu quero deixar um legado. Escrever algo tão importante que seja reconhecido com um daqueles ali - disse, apontando para um importante prêmio de literatura escondido atrás de uma pilha de papéis que conferia a sala um ar de cartório.

- Leva. É seu. Se é isso que é importante, fica com ele.

- Como? De forma alguma! Esse é o reconhecimento do seu trabalho! Jamais poderia tirá-lo daqui.

- Eu também já achei que realização era isso - disse ao se levantar sinalizando que a entrevista estava encerrada.

Tentou escrever a matéria sobre a conversa de todas as formas. Foi só quando notou que não era sobre literatura que haviam falado que encontrou o caminho para produzí-la. Naquela tarde, acabou escrevendo sobre felicidade.

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