sexta-feira, 22 de março de 2013

Na plataforma

Estação Consolação em pleno horário de almoço de uma terça-feira. As mulheres que circulam por ali andam em duplas ou em pequenos grupos. Uma ou outra aperta o passo em uma caminhada solitária. Algumas, aproveitam o intervalo no escritório para resolver alguma pendência. Vão comprar um presente para o amiguinho do filho que faz aniversário, fazer as unhas ou pagar alguma conta. Outras, vestidas em seus vestidinhos ou uniformes, voltam para a casa com a mochila nas costas para comer por lá depois das aulas da manhã. Tem também senhorinhas usando conjuntinhos de cores pastel ou alguma peça com estampa florida. 

Em comum, têm pouca coisa. Inclusive, parecem completamente diferentes. Cada uma transbordando um pouco do que é, sente e acredita por meio da forma de caminhar, falar e se vestir. Até que, de um instante para outro, se tornam profundamente parecidas. Isto acontece no momento em que o degrau da escada rolante em que ela estava toca o nível da estação onde se embarca nos trens. 

Ela caminha calma. Quer dizer, apenas se pode concluir isso pela velocidade de seu caminhar, afinal é impossível ver a sua expressão. Pode não ser calma, pode ser medo. Quem sabe ela esteja perdida. Não há como saber. O que parece é que vem de um mundo que não é o mundão de São Paulo. A única dica que se tem sobre ela é que seus olhos castanhos estão usando maquiagem. Além disso, não se pode perceber nada, nem se é jovem ou mais velha, se é loira ou morena, se está carregando um sorriso ou uma expressão mais séria.

Ela veste uma burca preta. Chama atenção dentre as demais mulheres que caminham por ali. De repente, faz parecer que todas aquelas mulheres tão diferentes entre si são iguais. Como se houvesse dois grupos, o dela e o das outras. Apenas como se houvesse, porque não há. No fim das contas são, naquele momento, uma única multidão, formada por mulheres esperando o trem para seguir na mesma direção. 

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