segunda-feira, 18 de março de 2013

Uma porta verde

Uma porta verde e pequenina instalada em uma calçada do centro de São Paulo. Não dizia nada para quem não pudesse ver através dela. Dizia muito para quem tivesse coragem de bater e descobrir o que ela guardava.

Toda manhã, um senhorzinho de boina destrancava ela e entrava. Então, ele só era visto novamente quando a noite começasse a cair. Por volta deste horário, o mesmo homem usando a mesma boina trancava a porta verde e ia embora. Durante o dia, algumas pessoas paravam diante da portinha, batiam nela e entravam. Dificilmente, ficavam mais do que uma hora por lá. Dentre os frequentadores do espaço guardado pela porta havia gente de todo tipo e idade, de jovens casais apaixonados até mães com seus filhos pequenos.

Desde o mês passado, o senhor de boina não apareceu. Algumas pessoas passaram por lá, bateram na porta e não foram atendidas. Os vizinhos, que nunca haviam percebido a existência da porta verde, começaram a notar o movimento. Foi ai que ficaram sabendo que ele havia morrido e se deram conta de que ninguém mais tinha a chave da portinha verde.

Daquele dia em diante, os vizinhos repararam na porta e passaram a criar as mais diversas teorias sobre o que havia ali atrás. Tinha quem falasse que era uma loja de coisas antigas, quem dissesse que era um centro espírita e aqueles que tinham certeza que o senhorzinho praticava alguma atividade criminosa por ali. A curiosidade era tanta que quem sempre esteve lado a lado e nunca se falou passou a agendar cafés ou se encontrar na calçada para compartilhar as suas hipóteses.

Aos poucos, o assunto se esgotou. Os papos sobre o que existiria por trás da porta foram diminuindo até deixarem de acontecer. Foram sendo substituídos por outros. Pouco a pouco, cada morador foi revelando para seus vizinhos o que existia por trás da sua porta. Afinal, não iriam esperar outros desaparecerem sem saber o que guardavam. Nunca descobriram o que o senhorzinho de boina havia deixado por ali em sua rua. Alias, isso nem importa mais. Afinal, seja lá o que houvesse atrás dela, a porta verde aproximou a vizinhança toda que estava logo à sua frente.

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