quinta-feira, 18 de abril de 2013

Andorinha

- Luiz? - disse como se a voz sorrisse ao telefone.

Apoiou o celular no ombro esquerdo enquanto procurava um guardanapo rabiscado dentro da bolsa. 

- Oi, aqui é a Luiza, sabe? A Luiza que trabalha com a Bárbara, tá lembrado? Isso mesmo, nos vimos naquele evento. Faz tempo, né? Que bom que o seu telefone continua o mesmo!

Acelerou a velocidade com que revirava a bolsa. O tom da voz suave e sorridente não combinava com os movimentos bruscos. Achou o papel.

- Estou te ligando para te convidar para falar em uma palestra que nós estamos organizando.

Abaixou os olhos para o guardanapo. Levou alguns segundos lendo as informações que passaria. A ligação ficou silenciosa.

- Oi, ainda tá ai? Então, vai ser no dia 23. Devem estar presentes umas 50 pessoas. Todas trabalham com TI também.

Levantou os olhos do guardanapo e olhou para frente. Um pássaro veio voando com as asas apressadas até que bateu na parede que via pela janela.

- É, isso mesmo! A sua fala teria uns 40 minutos, é suficiente?

O corpo castanho do passarinho caiu no chão. Se debateu uma ou duas vezes e parou. 

- Que ótimo que você pode vir! Claro, me passa seu e-mail que te mando as informações detalhadas. Só um segundinho.

O passarinho estava morto? Mãos na bolsa em busca de uma caneta.

- Pode falar! Ok, anotado. Nos falamos. Para você também! Beijos.

Desligou. Guardou o celular e encarou o defunto de andorinha no chão. Fitou ele por alguns instantes. Precisava ir. Mas, o que seria daquele passarinho? Olhou o relógio. Estava atrasada para reunião. Encarou o pássaro no chão mais uma vez. Poderia pegá-lo e enterrá-lo. Ou jogá-lo fora. O que se faz com um passarinho morto, afinal? Ninguém deve mesmo saber disso. Alguma hora, alguém resolveria. Talvez, alguém menos ocupado.

- Bárbara, ótimas notícias! Ele topou! - gritou voltando para o voo apressado e sem sentido que era a sua vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário