
Todos os habitantes do país tinham sempre um caderninho e uma caneta à
mão. Ao passar em frente a um restaurante, por exemplo, era possível ver as
mesas cobertas de folhas e anotações. Um contava para o outro do seu dia, dos
seus sentimentos e as novidades por meio da escrita. Vai ver que era por isso
que havia menos desentendimentos. A nossa língua dá menos tempo para pensarmos
do que as nossas mãos. Assim, as pessoas ponderavam mais sobre o que deviam
dizer quando estavam com a caneta em punho.
Se contrapondo a escrita estavam as sobrancelhas. Se por um lado, ao
escrever podia-se escolher com mais cuidado e calma o que se ia dizer, o
movimento das sobrancelhas era tão ágil quanto o da palavra falada. Eram
aqueles montinhos de pêlo sobre os olhos da onde, juntamente com as gargalhadas
e lágrimas, transbordavam sua espontaniedade. Os habitantes do tal país
conheciam melhor do que ninguém o poder das sobrancelhas.
Nesse país, não havia economia de sorrisos. Se fosse possível fazer uma
equivalência, o sorriso seria o muito obrigado
naquele país. Se alguém abria uma porta para um desconhecido, levantava no
metrô para um senhorzinho se sentar ou pagava qualquer coisa com dinheiro
trocado logo era recompensado com um sorriso. Não era algo que os pais
precisavam ensinar para as crianças como o fazem aqui onde falamos. Não tinha
essa história de palavrinhas mágicas. O sorriso era natural. Como não oferecer
um diante das gentilezas dos demais habitantes?
Os abraços eram abundantes também. Sabe aquela sensação de ganhar um
presente especial e não saber nem o que dizer para agradecer quem nos
presenteou? Isso não existia. O negócio era logo apertar o outro e fazer ele se
perder naqueles braços. A falta das palavras ditas fez com que se desenvolvesse
tipos diferentes de abraço. Lá, os habitantes eram capazes de reconhecer o abraço
que é para dar bom dia, daquele que desejava boa viagem do que era para pedir
desculpas.
Outro dia, misteriosamente, as pessoas começaram a falar naquele lugar.
Sabe do mais engraçado? Andam dizendo por ali que vão precisar inventar um
dicionário todo novo para conseguir fazer o som falar tanto quanto consegue
fazer o olhar.
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