segunda-feira, 8 de abril de 2013

Poltrona de cinema

O filme parecia não evoluir. Sua trama era lenta. As cenas escuras como a sala de cinema cheia onde era transmitido. Os diálogos eram tão raros que era possível ouvir o som dos pacotes de pipoca sendo remexidos, do refrigerante quase no fim sendo perseguido no fundo do copo pelo canudo e, hora e outra, alguns sussurros entre os espectadores.

Ele olhou no relógio. Contando os trailers, tinham passado apenas 40 minutos desde que a sessão havia começado. Suspirou pensando na quantidade de minutos que estavam por vir. Talvez mais 1 hora? Talvez mais. Afundou a cabeça na cadeira procurando uma posição que, pelo menos, tornasse o resto daquela estada no cinema uma experiência confortável.

Nos instantes seguintes, reparou que muitos dos outros com quem dividia a sala pareciam tão agitados quanto ele. Possivelmente, buscavam aquele mesmo conforto que faria do resto do filme um tempo menos desagradável. Mas, se não estavam satisfeitos, por que não se levantavam e iam embora? Ora, todos são livres. Bastava pedir licença para quem estivesse nas cadeiras mais próximas do corredor e sair.

Alias, por que, então, ele mesmo não levantava e saía? É que vai que o filme melhorasse. E também, já havia mesmo gastado aqueles R$ 14,00 para entrar na sessão. Sem contar o valor que pagou pela pipoca e Coca-Cola. Ir embora assim significaria perder aquela quantidade de dinheiro. O melhor mesmo parecia ficar. Quem sabe se alguém levantasse ele não tomaria coragem também.

Os próximos 10 minutos foram ainda mais longos. Repassava os argumentos que usava para se convencer a ficar. Eles pareciam cada vez mais fracos. Mas, afinal, que mania é essa que temos de insistir em ficar quando podemos ir? Por que precisamos do aval alheio para tomar a atitude de deixar a sala? É como se o primeiro a levantar assegurasse aos demais que os chatos não são eles e sim o filme.

Então, analogamente, começou a perceber em quantas outras situações na sua vida insistia em filmes chatos ao invés de ir embora. Quando foi mesmo que esquecemos que podemos ir?

Respirou fundo, como se pegasse impulso para começar uma intensa corrida, pediu licença para a pessoa na cadeira do lado e deixou a sala de cinema. Quando fechou a porta atrás de si, se sentiu estranhamente livre.

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