Desde quando aprendeu a ler as horas no
relógio, uma pergunta começou a martelar em sua mente. Como um cuco que
sistematicamente aparece de intervalo em intervalo, ele se pegava pensando
sobre essa coisa chamada tempo. Os ponteiros se moviam como as peças de qualquer
outra máquina o fazem. Isso não era prova suficiente para ele, antes mesmo de
completar seus 10 anos, de que o tempo existia.
Falou de suas dúvidas com a professora. Com
toda delicadeza, pediu para que ela lhe mostrasse o tempo. Ela, bastante experiente
e cuidadosa, abriu o livro que trazia na sua bolsa em uma página que estava
dividida em quatro partes. Em uma delas, havia um sol desenhado. Em seguida,
uma flor cor-de-rosa. Depois, havia um gorro e um cachecol. E, por fim, uma
árvore sem folhas. Falou das quatro estações do ano. Apresentou uma a uma e
concluiu a resposta dizendo que essa era uma forma de ver o tempo. Com o passar
dele, ano a ano, experimentamos cada uma dessas épocas. Pode ser que os meses
sejam uma invenção do homem, mas as estações não o são. A cada três meses,
independetemente de nossa vontade, elas se alternarão. São grandes indícios da
passagem do tempo.
Ele ainda não estava convencido e, naquela
noite, dirigiu a mesma pergunta ao pai. Sem hesitar, o pai pegou uma foto em
que estavam os dois, pai e filho, no dia em que ele havia nascido. Lembrou a
criança de que ele já havia sido daquele tamanho em que estava na foto. Os
muitos centímetros a mais que tinha hoje eram sinais da passagem do tempo.
Assim como os fios brancos que passavam a descolorir a cabelereira do pai.
No dia seguinte, foi com a mãe ao supermercado
ainda pensativo. Para ele, esse era um de seus passeios preferidos. Adorava
acompanhar a mãe por entre as prateleiras e escolher os produtos. Iam sempre no
mesmo mercado e ele sabia onde encontrar cada coisinha. Naquela manhã, a tão
conhecida loja estava diferente. Havia coelhos por todos os lados. Acima de
suas cabeças, um céu todinho feito de chocolates. Ovos de todos os tamanhos e
cores faziam seus olhos brilharem e a boca salivar. Visita a visita esperava
aquele momento do ano chegar, a Páscoa. E, finalmente, ali ela estava.
Caminhando entre os chocolates se deu conta, de
repente, do que afinal era o tempo. O tempo é essa espera por algo que amamos justamente
por acontecer somente de tempos em tempos.
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