terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Todo dezembro


Naquela manhã, a Avenida Paulista já estava decorada para o Natal. As luzes coloridas estavam devidamente instaladas nas árvores e o palco todo enfeitado com elementos verdes e vermelhos estava erguido próximo ao cruzamento com a Peixoto Gomide. No final de tarde do mesmo dia, o congestionamento já havia se formado na avenida . As estações de metrô estavam visivelmente mais cheias na região da Avenida Paulista. Havia senhorinhas andando de braços dados falando sobre como o tempo havia voado, afinal de repente já era Natal. As mães com celulares em mãos não perdiam uma pose dos seus filhos na frente das árvores que começavam a ser acesas. Em dois ou três pontos da via era possível encontrar aglomerações em torno de corais de crianças que cantavam.


Em sua casa, localizada a sete estações de metrô e uma de ônibus da avenida Paulista, Julio assistia ao noticiário pouco depois de ter se levantado. Sua mulher brincava que havia se casado com um morcego, afinal ele estava sempre acordado de noite e dormindo pela manhã por conta de seu trabalho. Calados, com  os ombros levemente encostados, eles ouviam o repórter falar sobre o trânsito que já se formava a sete estações de metrô e uma de ônibus dali. Uma criança usando um apetrecho na cabeça que lembrava orelhas de rena acompanhada da mãe - que seguia fotografando a filha - dava uma entrevista falando sobre como esperava o ano todo para ver os enfeites. Uma outra moça contava para o repórter sobre os inúmeros ensaios que havia conduzido com o coral que cantava ao fundo. Entre uma entrevista e outra, o telejornal transmitia imagens capturadas por um helicoptero da longa avenida iluminada vista de cima. Já no final da notícia, um senhor comentou sobre a mágica da época do ano, sobre as luzes, sobre as confraternizações, sobre o amor e repetiu, por fim, algo novamente sobre a mágica.

Satisfeito, Julio se levantou da poltrona e foi se trocar para mais uma noite de trabalho que começaria. Ele era um mágico e fazia parte de um grande grupo. Não era um grupo que se apresentava em circos ou em festinhas infantis, era um grupo de eletricistas. Assim como o Papai Noel na noite de Natal visita as casas quando todos dormem e não podem vê-lo, Julio instalava as luzes e enfeites pela cidade durante a madrugada.   No dia seguinte, como crianças que acordam correndo para ver o que encontrarão embaixo das árvores, os pedestres se aglomeravam nas avenidas para ver o presente que ele havia deixado. A mágica do período é tão poderosa que nem a criança com tiara de rena, nem a professora do coral sequer se davam conta de que alguém havia colocado todos enfeites ali. Era como se, de fato, tudo tivesse sido tirado de uma cartola para iluminar o último mês do ano.

Um comentário:

  1. Linda, meu pai também era mágico...um dia ele trouxe p/ casa uma simples tela de acrílico da cor azul que se encaixava bem direitinho na tela da nossa TV preto e branco e, como uma mágica, ele conseguiu transformar uma imagem triste num colorido tão especial, tão supreendente que aquele azul tão lindo ficou para sempre na minha memória!!! Que felicidade eu senti em ver uma imagem colorida da TV toda azul....chamei minhas amigas p/ ver e foi o maior sucesso da rua.bjs

    ResponderExcluir