De pijamas do lado de fora do pequeno apartamento, ele avisou em um tom um pouco mais alto para que ela o pudesse ouvir através da porta que o chaveiro já estava a caminho. Vestida para ir trabalhar do lado de dentro, ela suspirou e sentou-se no sofá para esperar.
Alguns minutos antes, ele havia descido até a garagem para buscar o celular que havia esquecido dentro do carro. Como não encontrava sua chave, pegou a dela, trancou a porta e entrou no elevador. Já na hora de subir, ele que costumava ser bastante coordenado derrubou a chave no poço do elevador. Ela revirou a casa, mas também não conseguiu encontrar a chave dele. Restava-lhes esperar pelo chaveiro.

Fora de casa, encarando seus próprios pés que vestiam uns chinelos velhos, ficou imaginando a cara dela de irritação. Deu risada sozinho ao pensar em sua experssão assim que a porta fosse aberta dizendo que seu chefe não gostaria de seu atraso. Ficou imaginando ela esticada no sofá mexendo no seu celular enquanto esperava. Lembrou-se do dia em que compraram aquele sofá e de como apressou-se para arrematar aquele modelo quando ela disse que lembrava um sofá que sua vó tinha para agradá-la. Adorava dar presentes a ela. Começou a sentir o cheiro dela vindo de dentro da casa, aquele do óleo que usava para deixar o ondulado do seu cabelo ainda mais marcado. Tinha toda a liberdade do mundo trancado para fora de casa, mas seu mundo estava lá dentro. Abriria mão dos passeios de bicicleta, das fotografias de domingo e das cervejinhas servidas na calçada para ficar deitado naquele sofá com ela o dia todo.
O chaveiro chegou, abriu a porta. Os cheiros de mofo e de óleo para cabelos se encontraram pela última vez. Ela decidiu que tinha que ir. Sozinho, alguns dias depois, achou a chave que não haviam encontrado no dia em que ela foi embora caída entre as almofadas do sofá.
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