sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cidade da Garoa

De pé dentro no metrô, com o seu celular na mão, ia lendo as postagens mais recentes no Facebook. Era um dia chuvoso e as pessoas se apertavam no vagão que parecia mais cheio do que o normal. Assim como a chuva não havia passado desapercebida ali dentro do metrô, onde os guarda-chuvas, cabelos e casacos molhados se esbarravam a todo instante, as postagens no Facebook giravam em torno disso. 

Vários dos seus amigos haviam postado alguma foto, usando o Instagram, do trânsito caótico que havia se formado em São Paulo. As imagens traziam vias tão congestionadas de carros que sentia um certo alívio de estar ali embaixo da terra no meio de um congestionamento só de pessoas. Outros de seus contatos da rede social postavam suas reclamações sobre o tempo que levavam para chegar nas suas casas.. As meninas se arrependiam por terem saído de sapatilha ou de vestidinho. No meio das publicações, deparou-se com um post que trazia uma imagem na qual se lia que a vida é muito curta para morar em São Paulo. Ascenou a cabeça positivamente, concordando com a frase lida.

Levantou os olhos do celular para checar em que estação estava. Faltava uma ainda. O seu olhar cruzou com o de um senhorzinho que estava sentado. Mesmo sendo muito mais velho, comovido provavelmente pelo tamanho da mochila que ela levava nas costas, gentilmente ofereceu o seu assento para ela. Ela agradeceu, dizendo que desceria na estação São Bento, a próxima.

Deixou o vagão sem saber qual saída da estação escolher. Perguntou para uma senhora por onde deveria seguir para ir ao edifício Martinelli. Muito atenciosa, a senhorinha se ofereceu para acompanhá-la até lá. Disse que amava a visão do prédio e que seria um prazer. Sairam da estação e foram surpreendidas por um sol de fim de tarde delicioso que aos poucos parecia secar o centro da cidade que estava todo molhado.

Ao se despedir da senhorinha, de frente ao edifício que buscava, concluiu que de fato a vida é muito curta para viver em São Paulo. Não porque viver ali seria desperdiçá-la, pelo contrário. Enquanto entregava seu RG para se identificar na recepção do prédio, concluiu que a vida era curta demais para experimentar as infinitas surpresas que a cidade é capaz de oferecer, como a gentileza do senhor do metrô, a companhia da moça até o prédio e o sol pós chuva que a esperava no centro, ali fora do metrô.

7 comentários:

  1. Querido Jaca, que delícia ler um comentário com uma reação bacana como a sua em relação ao post! Obrigada! Espero que goste dos outros também. Um beijo e ótima semana.

    ResponderExcluir
  2. sou eu, é vc, isso é cotidiano de muitos e muitas.

    ResponderExcluir
  3. Com todo respeito, São Paulo é uma merda, enquanto vc dorme em sua cama em algum bairro hype da Zona Oeste, existe uma guerra sendo travada, onde em média 5 pessoas morrem executadas todas as noites. Sequestros relampagos, assaltos, latrocinios, estupros, acidentes/transito, insegurança diária.

    Uma cidade onde existem diariamente várias possibilidades que lhe podem levar a morte, de fato não é uma cidade há ser vivida.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu entendo seu ponto e acho que é sempre interessante olhar as coisas a partir de diferentes prismas. O texto é um conto que narra a perecepção de uma personagem fictícia. Seu objetivo é compartilhar algumas coisas positivas que vê na cidade a partir de seu ponto de vista. Mas, você está certo de que há outros! Obrigada por compartilhar.

      Excluir
  4. A grande verdade é que São Paulo vicia assim como uma Pedra de Crack, tudo que ela oferece sendo uma cidade cosmopolita, a curto prazo lhe encanta, mas a medio e longo prazo, ela cobra amargamente por estes serviços, e vc se ve preso numa rotina lascinante.
    As opções de lazer que temos aqui, considerando o tamanho da cidade, são uma piada de escassos. Para as pessoas que saem dos seus trabalhos já de noite, só lhes resta se embriagarem em bares ou até mesmo se drogarem. Kd os parques de nossa cidade ? Só temos o Ibirapuera e outra meia duzia que fecham assim que o sol cai...

    Os q romantizam SP como uma cidade incrível, ou é porque tem dinheiro suficiente para passar temporadas fora na Europa e se dão o luxo de sentir falta da selvageria, ou ainda são sustentados pelo Pai e vivem ainda em contos de fada.

    São Paulo foi configurada de uma forma que consome aqueles que moram nela, sem dó ou distinção de classe social. Todos sofrem morando nela.

    ResponderExcluir