
Ele mesmo nunca havia identificado isso, mas o que existia em comum entre os seus personagens preferidos é que haviam feito escolhas que ele próprio tinha dificuldade de justificar ou entender. Em geral, tratavam-se de situações nas quais ele certamente teria agido de uma forma diferente. No começo, chegava a ficar incômodado com as escolhas ou atitudes do personagem. Passava, então, a se dedicar a entender os seus motivos. Era um exercício de empatia, de tentar exergar do lugar de alguém de outra idade, de outro sexo, de outro século, de outro país, de outra cultura, de outra família.
Estes personagens que despertavam seu interesse nunca saíam de filmes que dividiam seu elenco entre os que eram do bem e os que eram do mal. Esses nunca surpreendiam. Era fácil demais justificar as suas escolhas. Havia uma lógica que fazia deles personagens óbvios e previsíveis. Assim, não via graça.
Muitas vezes, não chegava a compreender as razões do personagem. Era comum o seu incômodo inicial não passar. Ainda assim, havia algo que encantava ele. Em suas sessões de análise, seu psicólogo já havia lhe dito, em mais de uma ocasião, que a condenação era um sentimento muito próximo da idealização. Secretamente, ele achava isso uma besteira, como todo o resto que ele falava. Estava tão preocupado pensando em como diria ao analista que deixaria a terapia que nunca notou este processo se reproduzindo na escolha que fazia de seus personagens favoritos.
A verdade é que, se fosse um filme, sua própia vida seria um faroeste no qual, em sua cabeça, ele era o mocinho e seu analista e sua ex-mulher eram os bandidos. As sinuosidades eram permitidas apenas para seus personagens. Ele sempre perseguindo a retidão, se culpando pelas encurvadas que dava em sua trajetória sem saber como justificá-las. Estava focado em seguir para um final feliz linearmente. É uma pena. Diferentemente do filme de seus personagens, o faroeste de sua vida nunca chegou ao clímax.
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