terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Propósito

Todo dia passa alguém por aqui, joga uma moedinha no poço e faz um desejo. Sempre foi assim e - espero não estar sendo otimista demais - sempre será. Não sei dizer quem começou com esta ideia, só sei que faz muito tempo. E não teve nem internet e nem Iphone que acabou com esta tradição. Ainda não inventaram aparelho nenhum eficiente como este poço para realizar desejos, viu?

Se por um lado o costume não mudou, confesso que o teor dos desejos está bem diferente. Quer dizer, tem uns que acho que nunca vão mudar mesmo. Sempre vai ter aqueles que pedem para encontrar o amor da sua vida, aqueles que já encontraram e pedem para se casar com ele - nessa categoria estão as mães que pedem para suas filhas casarem -, há quem peça para ter filhos e os que querem ficar ricos.

Recentemente, tenho notado alguns pedidos novos. Não tem sido incomum alguém jogar a moeda e não saber o que pedir. No fim, acabam pedindo felicidade ou paz. Coisas bem genéricas, entende? Sinto que a gente que vem até aqui está ficando cada vez mais em dúvida daquilo que quer para as suas  próprias vidas. Então, pedem alguma coisa que poderia servir para qualquer pessoa. E é engraçado, né? Porque se não sabe o que pedir, para que vai jogar a moedinha? Deixa o trocado para comprar uma bala ou coloca num porquinho. As pessoas ainda usam esses cofrinhos em formato de porco, não? Mas, então, antigamente as pessoas só jogavam a moedinha para pedir exatamente uma coisa que já tinham na cabeça, Hoje, parecem fazer uma aposta, um investimento na esperança. Acho que foi essa internet que causou isso. As pessoas têm opção demais e não sabem mais o que querem. Pode ser isso, viu?

Outra coisa que mudou foram os pedidos de emprego. Faz uns anos, o pessoal chegava e pedia para encontrar um emprego como advogado, como engenheiro, como eletricista e pronto. Atualmente, não. As pessoas não pedem para conseguir um trabalho, mas para descobrir qual é o trabalho da sua vida. Qual é mesmo a palavra que elas usam? É o contrário de sem querer. Elas dizem que não querem um emprego que faça com que vivam todos os dias fazendo coisas à toa, aleatoriamente. Ah sim, propósito. Tem um tantão de gente que pede para encontrar este tal de propósito.

Ai, ia só perguntar o seu desejo e acabei puxando assunto demais com o senhor, né? É que este é meu trabalho, ouvir o desejo de quem passa por aqui. Isto começou quando eu desejei encontrar o tal de propósito. Estava com um troco sobrando no bolso, coisa rara. Decidi jogar e pedir. Se tinha tanta gente pedindo, coisa ruim não ia ser, né? E não foi mesmo! Antes, eu vinha pro meu trabalho para cuidar desta grama. Eu era jardineiro daqui. Hoje, eu venho para cuidar desta grama e ouvir os desejos de quem caminha por ela. Sou jardineiro e colecionador de sonhos. Espero não ter atrasado o senhor com minha conversa. O senhor entende, né? Este é meu propósito.

Mas, então, o que o senhor vai desejar?

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